O Glioblastoma Multiforme (GBM) é o tumor maligno de sistema nervoso central mais comum em pacientes adultos, sendo o risco estimado no Brasil de 5 casos novos a cada 100.000 habitantes do sexo masculino e 4 casos novos a cada 100.000 habitantes do sexo feminino. O desenvolvimento deste tipo de tumor em geral não é relacionado com predisposição genética, não sendo hereditário.
O diagnóstico geralmente dá-se após o aparecimento de algum sintoma neurológico, como dor de cabeça persistente, crise convulsiva, perda de força, modificações no humor, na fala ou na memória. Mais raramente pode ser assintomático, sendo descoberto em algum exame realizado por outro motivo. A investigação é feita através de tomografia computadorizada de crânio e ressonância magnética de crânio, seguida de biópsia ou ressecção cirúrgica realizada pelo neurocirurgião.
É um tumor extremamente agressivo, cujo tratamento é constituído de várias modalidades terapêuticas combinadas, como a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia. Apesar de sua agressividade, o diagnóstico de GBM não deve ser encarado como uma sentença de morte, pois novas técnicas de tratamento tem levado a um aumento da sobrevida mediana, com pacientes atingindo às vezes sobrevidas longas e com qualidade. Muitas vezes estes pacientes tem que passar mais de uma vez pelo tratamento, com novas cirurgias, novas radioterapias e quimioterapias. Se você é portador desta doença e entende inglês, sugerimos que acesse os seguintes websites: http://cherylbroyles-gbm.com, http://virtualtrials.org/survivematt.cfm, http://gliosurvivor.org.
A ressecção cirúrgica é de suma importância, sendo necessária a remoção total ou da máxima quantidade de tumor possível, de maneira que não haja sequelas neurológicas limitantes para o paciente. A fim de minimizar danos e maximizar a ressecção podem ser utilizadas técnicas modernas que auxiliam o cirurgião, como a neuronavegação, a tractografia e a ressonância magnética intraoperatória.
A radioterapia é uma modalidade terapêutica muito estudada no tratamento do GBM, sendo utilizada após a cirurgia ou biópsia, combinada ou não a quimioterapia. É sabido que sua utilização dobra a sobrevida mediana dos pacientes, sendo considerada um dos pivôs do tratamento após a cirurgia. As técnicas de radioterapia vêm evoluindo rapidamente nos últimos anos, com a radioterapia formatada (ou conformada) tridimensional, a modulação da fluência do feixe (IMRT) e a orientação espacial por imagem (IGRT) permitindo uma diminuição das margens utilizadas e aumentando a precisão do tratamento, poupando mais tecido cerebral sadio e reduzindo as chances de efeitos colaterais.
Na radioterapia formatada tridimensional (RT 3D) diversos feixes de radiação que se cruzam são incididos sobre o tumor do paciente, de maneira a depositar a maior parte de sua energia sobre o câncer, levando a morte das células nesta região, e com os tecidos sadios sendo atingidos por quantidades pequenas de radiação, o que causa pouco dano.
A radioterapia por modulação do feixe (IMRT) surgiu como uma evolução da radioterapia tridimensional, na qual cada feixe de radiação é dividido em centenas de subcampos. Isso leva a uma subdivisão tridimensional do volume a ser tratado em blocos, e cada um deles pode ser otimizado através do uso de computador, gerando distribuições de dose mais formatadas ao tumor, permitindo que sejam poupadas estruturas normais com maior eficiência.
Distribuição de doses de radiação alcançada através de IMRT, que permite a subdosagem de estruturas sensíveis a radiação como os nervos ópticos e o tronco encefálico, levando a menores chances de complicação, ao mesmo tempo em que há uma cobertura adequada do alvo.
Para que seja realizado com alto grau de fidelidade o tratamento que foi gerado no computador, faz-se importante o uso da radioterapia guiada por imagem (IGRT) na sala de tratamento. Nesta técnica são realizadas imagens do paciente na sala de tratamento através de radiografias ortogonais ou tomografia antes de cada aplicação. Estas imagens são comparadas com as imagens geradas no planejamento do paciente, os desvios são estabelecidos, e as correções de posicionamento podem ser implementadas com precisão submilimétrica, especialmente quando é utilizada mesa robótica que permita correções angulares. Pode-se assim diminuir as margens que são dadas habitualmente em torno da região a ser tratada, poupando mais ainda tecidos sadios que possam receber altas doses de radiação.
A quimioterapia é mais uma arma que surgiu nos últimos anos dentro do arsenal terapêutico, sendo utilizada conjuntamente com a radioterapia para potencializar o efeito da radiação, e após a radioterapia em doses mais altas agindo como um agente tóxico ao tumor, aumentando também a sobrevida mediana dos pacientes.
É de suma importância que o paciente busque uma equipe de médicos capacitada e com experiência no tratamento deste tipo de tumor. Deve-se sempre escutar a opinião de todos os médicos envolvidos no tratamento do GBM, isto é, o neurocirurgião, o rádio-oncologista e o oncologista clínico, a fim de que sejam alcançados os melhores resultados.
O Dr. Icaro Thiago de Carvalho é o especialista em rádio-oncologia do Instituto Abathon, tendo sido um dos autores do livro “O que o oncologista precisa saber sobre radioterapia- Volume de Tumores do Sistema Nervoso Central”, publicado em 2010. Também é um dos autores do trabalho sobre fatores prognósticos em glioblastomas “Clinical Target Volumes May Be Related to Progression-Free Survival In Irradiated Patients with Glioblastoma Multiforme”, que foi premiado no ano de 2012 no Encontro da Sociedade Norte Americana de Radiologia em Chicago.