A Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA) caracteriza-se por deformidade rotacional e lateral da coluna, com angulação acima de 10 graus, sem causa ou processo patológico definido. A prevalência dessa deformidade é de 1,5 a 3% da população. Tradicionalmente, a medida do ângulo de Cobb é utilizada para quantificar a gravidade da EIA, no entanto este método limita-se a avaliação no plano sagital e coronal, sem avaliar a rotação no plano axial, que contribui para o melhor entendimento da curva escoliótica de forma tridimensional. A mensuração da rotação vertebral é importante para definir prognóstico e tratamento, já que funciona como indicador da progressão da curva, sendo clinicamente aplicável na avaliação pré e pós operatória. Para a mensuração da rotação vertebral destaca-se o método de Nash e Moe, que se baseia na avaliação do posicionamento da sombra radiográfica dos pedículos.
Uma das primeiras formas desenvolvidas para instrumentação no tratamento cirúrgico de escoliose foi o sistema de Harrington, que possibilitava boa correção coronal através da distração da concavidade e compressão da convexidade. Esta técnica porém não preconiza correção no plano axial, o que pode ocasionar perda de curvatura sagital. Posteriormente, Cotrel et al desenvolveram um sistema de instrumentação segmentar com melhor correção da curva escoliótica tanto no plano coronal quanto sagital. As desvantagens desse método são o aumento do tempo cirúrgico para colocação dos ganchos e do risco de lesão medular na utilização dos implantes. Atualmente, destaca-se a fixação da coluna através do emprego de parafusos pediculares, que oferecem segurança de implantação, rigidez na montagem e melhor correção tridimensional da deformidade. Este é considerado um método confiável e seguro de instrumentação, além de preservar mobilidade pelo menor número de segmentos submetidos a artrodese.
Correção da Escoliose
Para correção da deformidade, Cotrel e Dubousset (CD) em 1988 descreveram a manobra de correção da escoliose através da derrotação de haste moldada com curvatura próxima da curvatura sagital fisiológica, resultando na conversão da curva coronal em curvatura sagital, sem compressão ou distração adicional. Em 2004 e, posteriormente em 2011, Suk et al descrevem o uso da manobra de Rotação Vertebral Direta ( Direct Vertebral Rotation – DVR), aplicada a vértebra apical, para correção também no plano axial da rotação vertebral presente nas curvas escolióticas. Posteriormente, a técnica passou a ser aplicada a diversos segmentos da curva e passou a ser denominada Derrotação Vertebral Direta (DVD), sendo esta a preconizada por alguns autores. De acordo com esse conceito, a correção da rotação se dá pela aplicação de força direcionada posteriormente na direção oposta ao da deformidade. Esta manobra não é passível de realização com instrumental outro que não os parafusos pediculares, e com instrumental próprio especializado.
Em relação ao tratamento, quando a escoliose idiopática do adolescente apresenta-se abaixo de 25 graus, somente a observação é realizada. Entre 25 a 50 graus dependendo da maturidade do paciente é indicado tratamento com colete. A decisão de realizar uma cirurgia no paciente com escoliose idiopática do adolescente ocorre quando a curva atinge mais de 45-50 graus aferidos pelo ângulo de Cobb pelo risco de progressão ou quando há progressão documentada maior ou igual a 5 graus em 6 meses. Weinstein e Edgar demonstraram que curvas acima deste valor continuam a progredir na vida adulta. O tratamento cirúrgico tem dois objetivos primários, o primeiro é impedir a progressão da curva e o segundo é maximizar a correção da curva com segurança. Vale lembrar que o ângulo de Cobb serve apenas como parâmetro, este deve ser avaliado em conjunto com o balanceamento do tronco, rotação de vértebras, maturidade do paciente para correta indicação do tratamento do paciente.