Câncer de Tireóide

Introdução

O câncer de tireoide é raro, representando cerca de 1% de todos os cânceres. Porém, sua incidência vem crescendo nas últimas décadas. A causa deste aumento de casos deve-se à detecção precoce pela melhoria dos métodos diagnósticos e, provavelmente, à maior exposição à radiação.
Além de raro, o câncer de tireoide é pouco agressivo, apresentando taxa de mortalidade muito baixa. Para se ter uma idéia, após 10 anos de doença, aproximadamente 98% dos pacientes estão vivos (considerando o carcinoma papilífero, o tipo mais comum). Além disso, apenas 5% dos casos apresentam metástase na ocasião do diagnóstico. 
Esse tipo de doença afeta mais mulheres (2 a 3 x mais que em homens) e pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente dos 30 aos 50 anos.
O câncer de tireoide é descoberto, geralmente, através do achado de um nódulo na tireoide. O nódulo pode ser percebido pela palpação do pescoço ou através de ultrassom em exames de rotina. Quando exibe características suspeitas, é realizada uma punção do nódulo através de agulha fina e o material é analisado por um patologista. O nódulo de tireoide é relativamente comum na população, estando presente em 1 a cada 10 adultos. Dado um nódulo de tireoide, a chance deste ser câncer é de 3 a 5%.

   

Tratamento
A cirurgia é o tratamento principal do câncer bem diferenciado de tireoide; aqui são incluídos os carcinomas foliculares, papilíferos e os de células de Hürtle. A operação consiste na retirada completa da glândula tireoide (tireoidectomia total), reservando-se procedimentos menores que este para casos de exceção. Pode haver associação da ressecção de gânglios linfáticos adjacentes sabidamente acometidos pela doença ou com alto risco de estarem doentes também. Desta forma, o objetivo da cirurgia é remover a doença originada na glândula tireoide e suas possíveis extensões, como a invasão extracapsular a tecidos vizinhos e para os principais gânglios de drenagem linfática (nas regiões central e lateral do pescoço).
 
Assim como qualquer cirurgia, a tireoidectomia envolve riscos de complicações, apesar de muito baixos nas mãos de cirurgiões de cabeça e pescoço. Sob anestesia geral, o corte para a tireoidectomia é feito na porção anterior do pescoço e são normalmente muito discretos, aumentando de tamanho quando há necessidade de retirada dos gânglios laterais do pescoço.
 
A tireoidectomia total, além de ter vantagem terapêutica, permite o acompanhamento oncológico com o exame de tireoglobulina, obtido a partir de coleta de sangue comum. A tireoglobulina só é produzida pela célula tireoideana. Caso aumente após o tratamento, tem-se um sinal de alerta. Pode-se também pesquisar metástases no pescoço ou à distância (em outros órgãos) com o uso do iodo radioativo, que também é captado por células tireoideanas remanescentes.
 
O tratamento cirúrgico inicial do carcinoma diferenciado da tireoide é o principal fator capaz de reduzir o risco de retorno da doença (recidiva) e disseminação metastática. O tratamento com iodo radioativo (I131) é considerado complementar (adjuvante), na maioria dos pacientes. Quando usado, o iodo radioativo visa diminuir as taxas de recidiva e aumentar a sobrevivência, através da eliminação de focos muito pequenos de doença. O tratamento com iodo radioativo após tireoidectomia total está indicado quando existem metástases ganglionares, doença extratireoideana ou vascular, e em casos selecionados, quando há doença multifocal, invasão extratireoideana, e graus histológicos mais agressivos.Todas estas características são avaliadas através do estudo anátomo-patológico da peça cirúrgica.
 
Para iniciar a radioiodoterapia é preciso que o paciente se submeta a uma dieta alimentar pobre em iodo e que fique sem a reposição hormonal tireoideana (hipotireoidismo). Desta forma, o tratamento só ocorre, em média, um mês após a cirurgia. Hoje existem drogas (TSH recombinante) capazes de minimizar os sintomas decorrentes da falta deste hormônio. Para a administração do iodo radioativo, é necessária internação hospitalar de 2-3 dias, em isolamento completo para evitar a contaminação ambiental e de pessoas próximas, uma vez que a radiação é eliminada pela pele, urina e fezes. Os efeitos colaterais são infreqüentes e bem tolerados: alteração do paladar, inflamação nas glândulas salivares, diminuição das lágrimas com secura dos olhos.
A radioterapia e a quimioterapia são usadas raramente para o câncer bem diferenciado de tireoide, já que são tumores pouco responsivos a essas modalidades terapêuticas. Tais tratamentos são reservados a tumores bastante avançados e agressivos.
Completado todo o tratamento, através da cirurgia, com ou sem radioiodoterapia complementar, faz-se a supressão hormonal. Isto consiste em repor o hormônio tireoideano com uma dose um pouco superior à fisiológica, com o objetivo de diminuir a produção pela hipófise do hormônio estimulante da tireoide (TSH), que é capaz de estimular células normais ou cancerígenas da tireoide.

 
 

Seguimento
Após a cirurgia, o paciente terá que tomar diariamente um comprimido para a reposição do hormônio da tireoide por toda a vida. O acompanhamento médico após a cirurgia é realizado através de ultrassonografia da tireoide periódica e exames de sangue.